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1900-09


No início do século XX, uma frenética série de espetaculares avanços tecnológicos causava impacto na sociedade. O motor de combustão interna, o motor elétrico e os rudimentos da telecomunicação permitiram que os fabricantes aspirassem a níveis de eficiência outrora inimagináveis. Artigos anteriormente fabricados à mão agora podiam ser feitos de modo mais rápido e barato pela máquina, solapando o papel do artesanato. A máquina também estava revolucionando o mundo doméstico e, com o advento do rádio, do telefone e da televisão, viria a redefinir complemente o termo comunicação no lar e no trabalho.
A linha de montagem acelerou drasticamente a produção de veículos, tornando o carro a motor acessível a um mercado muito mais amplo. Em 1903, os irmãos Wright realizaram um sonho acalentado há milênios: num biplano a gasolina, voaram a distância de 40 metros. Apenas seis anos depois, Lours Blériot voaria 42 quilômetros em seu monoplano, da França até a Inglaterra pelo Canal da Mancha. Em trinta anos, haveria vôos regulares que cruzariam o mundo levando a bordo quem pudesse pagar por eles.

Movimentos Artes e Ofícios
Apesar de produto da era vitoriana, o movimento de artes e ofícios deixou uma herança que se estendeu ao século XX. A preocupação maior de seus principais personagens era o fato de que os fabricantes da "era da máquina" eram movidos mais pela quantidade do que pela qualidade. O designer e teórico mais influente do movimento foi William Morris (1834-96). Sua empresa, a Morris and Co., produziu uma grande variedade de objetos: mobiliário, vitrais, papéis de parede, tecidos, cerâmica, entre outros. Para Morris, a arte e o artesanato possuíam o mesmo valor, e seus designs utilizavam as habilidades conjuntas de artesãos e artistas. Essas obras se caracterizam por suas referências medievais e góticas; Morris queria a mão do artesão visível no trabalho, diferenciando-o do objeto feito pela máquina.
Os móveis robustos e de construção simples deixam expostas as junções; nos objetos de metal, a mão do artesão se evidenciava na textura das marteladas. Morris acreditava que o bom design tinha um efeito positivo e contribuía para uma sociedade mais feliz - uma crença compartilhada pelos modernistas nos anos 20. Apesar de o movimento de artes e ofícios ter começado na Grã-Bretanha, houve equivalentes no resto da Europa e nos EUA. Oficinas - ou guildas, seguindo os preceitos de Morris - surgiram em muitos países. Enquanto os designers norte-americanos, como Gustav Stickley, seguiam o modelo britânico de perto, muitos europeus se afastavam dos dogmas fundamentais do movimento de artes e ofícios e abraçavam prontamente a art nouveau e o modernismo.

Art Nouveau
Por volta de 1900, já havia se consolidado o movimento dominante da década, a art nouveau, nascida do movimento de Artes e Ofícios e do movimento estético do século XIX. Seus expoentes estavam muito mais dispostos a aceitar o uso de novos materiais e a produção em massa do que os artistas do movimento de Artes e Ofícios. Embora também se inspirassem no passado, compartilhavam de um entusiasmo pelo futuro que os diferenciava do movimento precedente. O nome é derivado da loja do negociante de arte Samuel Bing, l'Art Nouveau, inaugurada em Paris em 1895. Os principais designers da Europa foram convidados a exibir seus trabalhos lá. Entre eles, o belga Henry Van de Velde (mobiliário), o norte-americano Louis Comfort Tiffany (cristais) e os franceses Emile Gallé (cristais) e René Lalique. Este último foi um dos principais expoentes da art nouveau. Suas jóias refinadas, muitas vezes baseadas em motivos florais ou insetos, eram feitas de cristal, pedras semipreciosas e ouro.
Embora a art nouveau tenha se desenvolvido de modo idiossincrático em muitos países (era muito próxima do Jungendstil na Alemanha, da Secessão no Áustria e do Stile Liberty no Itália), seu estilo fluido, orgânico, é facilmente reconhecível. Sua característica dominante é a curva em forma de correia de chicote, que influencia tanto a forma quanta a decoração superficial do objeto. A fluidez orgânica era inspirada pela natureza, sobretudo vegetal.
Há também referências a tradições antigas, como a arte celta e o rococó. A art nouveau podia ser interpretada tanto de forma naturalística quanta abstrata, e seus princípios aplicados a qualquer tipo de design, desde a arquitetura até a joalheria. As obras mais importantes eram realizadas na França, Bélgica, Áustria e Escócia.

A escola de Glasgow
Na Escócia, a Escola de Glasgow, um pequeno mas amplamente reconhecido grupo de designers liderado pelo arquiteto e designer Charles Rennie Mackintosh, produzia obras que combinavam o funcionalismo do artes e ofícios com a exuberância decorativa da art nouveau. As obras fundiam um formato geométrico com um padrão linear fluente baseado em formas orgânicas.